Há
45 anos, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente Humano, em Estocolmo, a Organização das Nações Unidas
(ONU) instituiu o Dia do Meio Ambiente que
passou a ser comemorado todo dia 5 de junho. E o que mudou de lá pra cá? Creio que pouca coisa, principalmente,
diante das últimas ações nefastas do Donald Trump, que vão de
encontro ao Acordo de Paris contra a Mudança Climática e a atual
política ambiental que visa a redução de emissões gases poluentes
da atmosfera (GEE) dentre outros. Falar sobre meio ambiente no Brasil
é muito complexo,
os impactos provocados vêm desde a época do Império,
José
Bonifácio
em 1823 declarou na Assembleia
Legislativa do Império do Brasil que "a
Natureza fez tudo ao nosso favor, nós, porém, pouco ou nada temos
feito a favor da Natureza. [...] nossas preciosas matas vão
desaparecendo, vítimas do fogo e do machado destruidor da ignorância
e do egoísmo"
e ainda fez uma profecia "virá
então este dia (dia terrível e fatal), em que a ultrajada natureza
se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos."
De
lá pra cá inúmeros impactos ocorreram no Brasil e no mundo.
Surgiram
profissões, nesse
ínterim,
com
objetivo de minimizar esses
impactos causados
pela interferência antrópica promovendo
o desenvolvimento sustentável, e é
claro que dentre elas destaco
a medicina veterinária e
a zootecnia. No
fórum
sobre “Zootecnia do Futuro o desafio da sustentabilidade que
foi
realizado pelo CRMV/ES em 2016,
o
zootecnista
José Neuman Miranda Neiva, Professor Doutor da Universidade Federal
do Tocantins, em sua Palestra “O ENSINO DA ZOOTECNIA NO BRASIL E OS
DESAFIOS AMBIENTAIS”, destacou que os alunos de Zootecnia não
estão sendo preparados para atuarem na área de meio ambiente e que
é urgente discutir dentro dos cursos a importância da formação
profissional na área. Na palestra “SOLUÇÕES ZOOTÉCNICAS PARA A
PRODUÇÃO ANIMAL SUSTENTÁVEL, AMBIENTAL E ECONOMICAMENTE”
ressaltou que os zootecnistas devem despertar para as boas práticas
como manejo de pastagens, aproveitamento e destinação de resíduos
aliadas as ações governamentais como o programa de integração
lavoura-pecuária, agricultura de baixo carbono, entre outras
soluções e tecnologias que além de contribuírem para melhorar a
produção animal, mitigam os impactos ambientais gerados. Ainda de
acordo com
Neuman:
A questão ambiental é a maior oportunidade profissional que surgiu
para o Zootecnista nas últimas décadas e defender a conservação
do meio ambiente é defender a empregabilidade do Zootecnista.
Já
para o
Dr. Henrique Luís Tavares, Presidente da Comissão de Zootecnistas
do CRMV-SP, discursou sobre “O PAPEL DO ZOOTECNISTA NA ÁREA DO
MEIO AMBIENTE”. Ressaltou a Resolução
MEC 04/2006
(Diretrizes
Curriculares dos Cursos de Zootecnia) citando os campos dos saberes
nas áreas relacionadas às Ciências Ambientais. Destacou os
Princípios da Profissão expressos em lei (respeito à fauna e à
flora; a conservação e recuperação da qualidade do solo, do ar e
da água; o uso tecnológico racional, integrado e sustentável do
ambiente) e explanou sobre as diversas atribuições do Zootecnista
na área do meio ambiente e as oportunidades que o setor oferece na
área pública e privada. Defendeu
a
Responsabilidade Técnica dos
Zootecnistas
nos empreendimentos
de Uso e Manejo da Fauna, além de abordar outros assuntos como a
nutrição e reprodução animal como ferramentas da conservação e
preservação, destinação correta e aproveitamento de resíduos da
produção animal, bem-estar animal, construções rurais adequadas
ecologicamente, licenciamento ambiental, EIA/RIMA, legislações
ambientais, empregos verdes, gestão ambiental além de destacar os
desafios e oportunidades profissionais. Afirmou ainda
que os Zootecnistas têm muito a contribuir para a construção de um
novo, saudável e produtivo modo de interagir com as pessoas, os
animais e o planeta sendo um elemento-chave para repensar os valores
e as ideologias vigentes e estabelecer novas formas de pensamento e
ação em todas as práticas produtivas. Enfatizou ainda que os
Zootecnistas são capazes de gerar e aplicar conhecimento científico
na criação racional de animais, usando a sua máxima produtividade
para além da obtenção de lucro, conservá-los e preservá-los. O
tema desenvolvimento sustentável é um "diferencial" na
Zootecnia, representando uma competência essencial para estar bem
colocado no mercado de trabalho.
No
tema abordado pelo Zootecnista, o Professor Doutor Pedro Veiga
Rodrigues Paulino da UFV/DZO, “A AGROPECUÁRIA DO FUTURO FRENTE ÀS
NOVAS TECNOLOGIAS ZOOTÉCNICAS” demonstrou que a evolução na
produtividade da pecuária brasileira nos últimos 50 anos está
totalmente ligada à adoção de tecnologia. Destacou que a população
mundial em 2050 será de 9 bilhões e a demanda de alimentos será
100% maior que a produção atual. Segundo ele, o consumo de carne
nos países em desenvolvimento crescerá ponderadamente. Na pecuária
de corte nacional, 80% das pastagens estão degradadas e com baixos
índices zootécnicos e taxa de desfrute. Os Zootecnistas têm
competência e habilidades para empregar tecnologias já consolidadas
visando aumento de produtividade e da unidade animal por hectare de
pasto. Destacou a Pecuária Sustentável, com práticas socialmente
justa, ambientalmente correta, e economicamente viável, são
exigências atuais do poder público, setor privado e sociedade
demonstrando um mercado de trabalho com grande potencial de
crescimento e oportunidades para os Zootecnistas.
Essa
competência dos
Zootecnistas é
vista amiúde
no
Tocantins
através de vários
profissionais
que atuam
na área ambiental em diversos segmentos
e órgãos
como a Embrapa, Ruraltins, IFTO, UFT dentre outros. Na Embrapa, os
zootecnistas Cláudio França
e Pedro Alcântara do setor de Transferência de Tecnologia participam ativamente no plano ABC junto com os extensionistas rurais do Ruraltins como a Ana Clara Bohnen e Pericleon Rocha, dentre outros. O Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) é um plano setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças
Climáticas para a consolidação de uma economia de Baixa Emissão
de Carbono na Agricultura. Este plano foi elaborado de acordo com o
artigo 3° do Decreto n° 7.390/2010 e tem por finalidade a
organização e o planejamento das ações a serem realizadas para a
adoção das tecnologias de produção sustentáveis, selecionadas
com o objetivo de responder aos compromissos de redução de emissão
de GEE no setor agropecuário assumidos pelo país. O Plano ABC é
composto por sete programas, seis deles referentes às tecnologias de
mitigação, e ainda um último programa com ações de adaptação
às mudanças climáticas: Recuperação de Pastagens Degradadas;
Sistema Plantio Direto (SPD); Fixação Biológica de Nitrogênio
(FBN); Florestas Plantadas; Sistemas Agroflorestais (SAFs);
Tratamento de Dejetos Animais; Adaptação às Mudanças Climáticas
e o mais famoso a
Integração
Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF). Diversas
capacitações foram feitas através de
convênio, inclusive com implantação de várias Unidades de
Referências Técnicas sendo a URT de Almas a que mais se destacou.
Na
UFT, a professora
Doutora Flávia Tonani, que
leciona na graduação do curso de Engenharia Ambiental e no mestrado
de Agroenergia,
publicou vários artigos voltados para o meio-ambiente com ênfase no
sequestro de carbono e no manejo adequado do solo como: a
Formação,
manejo e recuperação da capacidade produtiva das pastagens das
regiões norte e sul do estado do Tocantins e
Impactos
do Sistema de Ocupação do Solo sobre Propriedades Físicas e
Químicas e no Estoque de Carbono do Solo
dentre outros artigos. Já no IFTO, o professor Clauber Rosanova, que
leciona na graduação e pós-graduação, publicou artigos
como: O
Potencial de Produção de Biogás em Bovinoculturas do Tocantins,
Viabilidade da geração de energia elétrica com biogás em aviários
comerciais no Tocantins
dentre outros. O
que eles têm em comum? São todos zootecnistas.
E
o veterinário pode atuar na
área
ambiental?
Sim.
O
médico
veterinário
deve
estar atento às questões ambientais
como erosão, a desertificação, a salinização, a contaminação
dos recursos hídricos, a destruição da flora e da fauna, a
extinção das espécies, os agrotóxicos, os dejetos orgânicos, os
inseticidas utilizados nos controles de vetores, os medicamentos,
promotores de crescimento e hormônios utilizados na alimentação
animal e os modelos de produção agropecuária, não podem estar à
margem da reflexão da atuação profissional.
A
participação do médico veterinário na área de meio ambiente é
marcada, em especial, pela sua atuação também
como perito. Sua
contribuição nesta área se dá em parceria com o biólogo na
identificação taxonômica de espécies. É reservada ao médico
veterinário a competência exclusiva na determinação da causa
mortis dos
animais, com intuito de identificar atos criminosos (OLIVEIRA, 2003).
No
primeiro
Seminário Nacional sobre o papel do médico veterinário e
zootecnista na Área Ambiental (2016)
o
integrante
da Comissão Nacional de Meio Ambiente (CNMA/CFMV), Heitor David
Medeiros, comentou
sobre a relação entre
o meio ambiente e saúde e a influência das mudanças climáticas
nas zoonoses. “Os recentes surtos de vírus demonstram a
importância das doenças emergentes em todo o mundo e o papel dos
serviços veterinários na prevenção, diagnóstico e
monitoramento”, ressaltou também ressaltou a importância de uma
atuação multiprofissional nas equipes de saúde. “Precisamos de
profissionais com clareza de conceitos para que entendam facilmente
de que maneira cada um pode atuar conjuntamente para enfrentar os
problemas que possam surgir”, afirmou Medeiros. A também
integrante do CNMA/CFMV, Elma Polegato, citou
os resíduos de serviços de saúde animal. Os resíduos são os
resultados das atividades exercidas com atendimento à saúde humana
e animal e que precisam de processos diferenciados e tratamento
prévio. Segundo ela, a mudança de postura dos produtores em relação
aos resíduos pode gerar economia de custos e evitar prejuízos. “A
boa prática do manejo de resíduos dentro dos estabelecimentos
minimizam a geração de resíduos e visa preservar o meio ambiente,
a saúde pública e os trabalhadores”, explicou Polegato.
No
Tocantins, há 30 Unidades de Conservação, entre áreas de gestão
federal, estadual, municipal
e
três
regiões produtivas: (a)
uma região de pecuária exercida por agricultores familiares em
assentamentos, no bioma amazônico no Bico do Papagaio; (b)
uma região no Noroeste do estado, no bioma amazônico, ocupada pela
pecuária de corte exercida por agricultores familiares e
agricultores de médio e grande porte com técnicas e práticas
intensivas e modernas; e (c)
a região central ao longo da BR 153 e no sudoeste do estado.
Em virtude disso, o CRMV-TO criou através da portaria 006/2017 a
Comissão Estadual de Meio-Ambiente (CEMA), um marco na história do
Conselho, com objetivo de discutir e promover o desenvolvimento
sustentável, propor políticas públicas e promover a inserção dos
profissionais (MV/Z) neste importante nicho de forma multidisciplinar e
harmônica com outras profissões, outros conselhos e órgãos que lidam com a área ambiental.
Pericleon
Alves Rocha - CRMV-TO 1194 VP/ CTF/AIDA 678397-4 IBAMA
Presidente
da CEMA (Comissão Estadual de Meio Ambiente) do CRMV do Tocantins
Extensionista Rural do Instituto de Desenvolvimento Rural do Tocantins
Coordenador do Território Nordeste do Tocantins
Diretor de Comunicação da ASSER-TO